O meu amigo imaginário

11-12-2009 14:57

 

    Por vezes as crianças sentem necessidade de conceber um amigo imaginário, e consequentemente os pais podem ter alguns receios. Através de algumas perguntas, as que frequentemente surgem, vamos responder, de forma a ficarem esclarecidas as suas dúvidas.

 

  • É prejudicial a criança ter um amigo imaginário? Não, uma vez que permite desenvolver o imaginário da criança e em situações de stress emocional (como a mudança de um amigo de escola ou o divórcio dos pais) pode funcionar como um mecanismo de defesa que conforta e ajuda a ultrapassar esse momento. Existem dois tipos de amigos imaginários: os amigos invisíveis ou os objectos personificados.

 

  • Por que é que existe em algumas crianças a necessidade de criar um amigo imaginário? Se existe em algumas situações a «necessidade» de recorrer a um amigo imaginário, noutras não é propriamente uma necessidade mas sim o resultado do imaginário da criança. De facto, as crianças que têm amigos imaginários são na maioria muito criativas e inteligentes.

 

  • Com que idade é mais frequente a criança procurar um amigo imaginário? É muito comum entre os 3 e os 6 anos. Normalmente, na idade de entrar para a escola estes amigos desaparecem de forma natural.

 

  • Existe um padrão de criança que busca esta companhia real apenas na sua fantasia? Sim, normalmente são crianças mais criativas e mais inteligentes, que criam os amigos imaginários. Existe uma tendência  para serem os primeiros filhos e filhos únicos a criarem os amigos imaginários.

 

  • Quais são os principais motivos que levam a criança a criar um amigo que existe apenas na sua imaginação? Existem várias razões para exaltar o amigo imaginário. Tais como a necessidade de criar uma personagem que acompanhe a criança nas suas brincadeiras; a possibilidade de pôr em prática o resultado da sua capacidade de imaginação fértil (criar uma fada, um ser fantástico que existe nas florestas encantadas...); funcionar como conforto para momentos de stress; o querer mandar na brincadeira ou controlar a situação (a criança dá ordens, define regras, muda de regras quando lhe apetece); para fazerem coisas que normalmente não fariam; porque ajudam a lidar com a raiva ou inveja que a criança sente no seu quotidiano, mas de uma forma segura; porque podem funcionar como um amigo substituto nas crianças que não têm amigos ou que estão sozinhas.

 

  • Que tipo de conversas as crianças mantêm com o amigo imaginário? As crianças têm com os seus amigos imaginários todo o tipo de conversas e partilham com eles os seus segredos mais íntimos (desde os seus sentimentos em relação a alguma criança da sua sala, em relação às atitudes dos pais, em relação a algum acontecimento traumático). Mas na maioria das vezes as conversas são inventadas e os diálogos são feitos em função do contexto da brincadeira e não quer dizer que tenham  um significado muito concreto. São apenas imaginação, criatividade.

 

  • O que é que os pais devem fazer? Os pais devem lidar com a situação do amigo imaginário de forma natural, uma vez que na maioria das vezes é um acontecimento normal no desenvolvimento da criança. Devem respeitar o amigo imaginário, lembrar-se do seu nome, não gozar, não se sentar em cima, não o usar para conseguir que o filho coma a sopa... Mas também não devem ir mais longe, ou seja, não devem actuar como a criança, não devem conversar demasiado com o amigo imaginário. Se a criança pede um prato extra podem dar, mas não devem promover dizendo «toma ele precisa também de um guardanapo e de um copo...». Será a criança a definir qual o grau de participação do amigo imaginário na sua vida real e qual o grau da participação dos pais. O importante para os pais é tentar identificar se há alguma razão concreta para existir esse amigo imaginário: a morte de alguém, mudança de casa, divórcio, perda de um amigo... Se existe esse tipo de razão deve-se tentar estar atento aos diálogos da criança porque podem transmitir os seus sentimentos, medos, ansiedades em relação aos acontecimentos. Contudo, se os pais sentirem muita desorientação devem pedir ajuda a um psicólogo.

 

  • Quando é que os sinais da presença de um amigo imaginário passam a ser patológicos? Quando a criança fica demasiado agarrada ao amigo imaginário, começando a isolar-se; quando tenta incorporá-lo totalmente no seu dia-a-dia; quando o amigo imaginário está sempre a fazer coisas malfeitas, ou está sempre a arranjar problemas ou chega a tornar-se agressivo e manipulador; quando a própria criança culpa sempre o amigo imaginário pelos seus erros ou ainda quando já passou a fase normal para ter um amigo imaginário (mais de 6 anos). Nestas ocasiões os pais devem sempre manter a tranquilidade, mas se as estratégias que adoptaram não resultarem e a situação se mantiver devem consultar um psicólogo.

 

  • Quando e como é que as crianças «matam» o amigo imaginário? Os amigos imaginários deixam de existir da forma como aparecem, naturalmente. Desaparecem porque a criança deixa de ter necessidade de os ter, quando o mundo real está mais incorporado em si e a criança começa a dar mais importância aos amigos reais.

 

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